com a claridade das manhãs
a saber a sal.
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e a linhos suados de pele quente.
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e a linhos suados de pele quente.
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rita rocha
algo que até por (palavras) poderá ser difícil descrever.
como o corpo humano reage a sentimentos.
dar-lhe uma imagem.
entrar em locais onde não se deveria estar."
*rita rocha....
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[tenho medo de estar aqui. tenho medo de estar aqui.
disse passado dias, quando já esperávamos que morresse
num mistério triste.]
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quando a voz adquire arestas, fere a língua.
violenta suspensão que se situa na iminência do incriado.
numa nudez que rasga a palavra e silencia o medo.
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[na minha casa, a janela aberta para o sol,
o meu corpo tremendo, desejando abraçá-la.
tão perdido.]
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aqui, onde se engendra o desequilíbrio,
o sentido despoja-se do conteúdo.
para ser a conquista do sussurro.
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[como se a floresta cobrisse as coisas
com espantosa rapidez.]
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o vento soprado como sangue
joão moita
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[valter hugo mãe]
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pontinhos. muitos*
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ao longo da vida vamos construindo um sótão-abrigo onde guardamos os nossos sonhos-lembrança fundamentais. as vivências, as imagens que fomos retendo para podermos voltar sempre que desejamos. velhos, visitamos estes sótãos com raízes numa infância longínqua e fazemos soar livres os fios da memória. baralhamos a curva do tempo. caminhamos em direcção aos inícios, vamos para o lugar onde se encontra a morada dos nossos devaneios.
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mansarda
teatro circolando
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foi tanto assim ontem..e custou muito sentir as luzes apagarem devagarinho
como que a dizerem: pronto, vamos para casa agora. das que têm ninhos prestes a voar.
aquele sótão ensarilhou imensidões.
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hoje apeteceu-me guardá-las. parar infinitos.
juntei-as num frasco e dei-lhes um céu.
e embora este azul
acabe “numa superfície de vidro, que não se consegue tocar”,
é o meu mar.
na bainha do vestido guardo o mar.
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ato os fios d’ocre às pernas e
deixo-me flutuar no chão de ervas secas,
com o som das gaivotas nos olhos.
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nas folhas de papel, é sempre tudo tão completo..
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katia chausheva
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o outono tem sempre um sabor a
bolachas de manteiga, guardadas em
latas de chapa de muitas histórias..
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trouxeste a manta?
deixa-me pousar em ti. pele na pele.
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há também as palavras-tempo.
quando os espelhos se habitam de um toque que persiste desfocado
porque a luz dos corpos não tem a mesma intensidade.
e repousa a distâncias diferentes.
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é, (miriam).
também teria um filho
se ele fosse sempre bebé
se pudesse sustê-lo em meus braços acima da realidade
para que o meu menino nunca pusesse os pés na terra.
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mas eles chegam a ser tão velhos como qualquer um.
por isso sangro e tenho cólicas e aperto este ventre vazio e
engulo comprimidos até adormecer e esquecer
que me esvaio na minha negação.
espelho negro_miriam reyes
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[é tão delicioso este demorar no]
"escutar a gota de água na torneira
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*sal da língua
eugénio de andrade
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como dedos de uma mão sem idade. que apontam para a moldura na parede.
é a minha estrela, vês?
nos rebocos a cal durante a noite, desenhei certezas. daquelas em que se acredita plenamente
que se possa ser feliz para toda a vida.
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eleanor hardwick
e que o passado, fechado em armários que rangem durante a noite
brilha às vezes, como as pratas de chocolates que
entregam nas mãos das crianças
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cal
josé luis peixoto
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