pontinhos..muitos

passeio dentro de ti

nesta cidade, muito guarda-segredos e cantinhos rarefeitos. inacessíveis. na pele colada de balões e bailarinas..
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faz-te íntimo. mas densamente, apaixonadamente pelos apeadeiros.
[movimento-carruagem]
um nervo erótico a propagar-se pela carne.
instante tão frágil que tudo governas
como se fosse possível vestir o fogo.
como se fosse possível..
segredo de uma boca.
que poder temos nós sobre as válvulas biológicas?
que se foda a sépia dos futuros.
eu quero aparecer no dia do teu nascimento, desarmado como uma árvore,
sem outra missão que não dizer-te baixinho..bem-vindo ao continente dos frágeis.
haja elétricos ainda,
pois é à janela levantada de um elétrico que a realidade é premente
e o vento toda a história do mundo.
são esses os momentos em que te desejo.
a tua solidão pactuada..pequeníssima nota reverberada entre pálpebras.
ter dos teus lábios essa sílaba nítida de língua nenhuma.
pretensa inclinação.
sem saber ainda os traços do teu rosto
sei que me reconhecerei em ti com extrema vulnerabilidade.
de ti carregarei até ao fim o anúncio cardíaco,
em pleno silêncio.
gostaria no entanto de te receber num outro lugar.
sei que haverás de te deslocar timidamente
por estas ruas e prédios.
tudo é já tão tarde
eu próprio lamento o tempo
que não terei para testemunhar
o incêndio dos teus olhos.
percebes isso?
se a eternidade fosse um espelho o que mostraria?
[na] frágil película das horas
a tua carne
único tesouro
- sei-o enquanto nadas -
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[fera oculta; adapt., Vasco Gato]