passeio dentro de ti

nesta cidade, muito guarda-segredos e cantinhos rarefeitos. inacessíveis. na pele colada de balões e bailarinas..
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ontem fui ver o mar. precisei de olhar ao longe.
somos uma história em suspenso. a voar 
de uma forma estranha.
[és gaivota. respira.]
contas estrelas comigo?
[sou nómada. não sou príncipe.
louco e inconsequente. descontrolado. 
intenso.]
impossíveis portanto.
[estou em ti.
sem medo.]
hoje queria palavras.
[um dia converso contigo.]
diz-me hoje.
[voa.]
o teu pragmatismo é desconcertante.
[as vidas não são simples.]
mais vale não vasculhar dentro de ti.
[não sejas assim.]
vem.
[promessas.]
riscos.
[não sou racional. e gosto de te ver. 
uma forma de te sentir.]
e o que sentes, nómada, 
nessa terra distante?
[vontade de te ter. percorrer o teu corpo.
a uma velocidade vertiginosa.]
até onde ias?
[gosto de ti.]
acho que podíamos ser uma possibilidade. 
por isso é melhor parar.
[já estamos a fazer amor. tens consciência?]
sim. acho que sim. prometes o sempre?
[sou momento.]
só isso?
[há coisas que não precisam de 
fazer sentido.]
um dia dizes-me?
[desculpa.]
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- há quantos anos?
- perdi a conta.
- saudades tuas. alguma vez te magoei?
- apaixonei-me por ti. já te disse.
- bonita tu. muito.
- não se colocam pássaros em gaiolas.
- não sei. ainda não sei.
- sabes.
- tinha ficado aí contigo. seria diferente?
- talvez.
- ser eu às vezes magoa.
- frágil. tu.
- deserto. paz.
- defesas tuas. 
  [o teu beijo. impulso.
  nada pode ser uma necessidade.]
- estiveste tão lá.
  [uma vez. outra vez.
  só te faltou uma coisa.
  tempo. não te dei tempo.]
- conheço-te.
- eu sei.
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P gosta de ouvir acordes na pele. e ouve tudo, sobretudo o som dos astros.
P também tem medos. mesmo sabendo que há precipícios de onde só é possível voar.
e voa. de olhos focados nas montanhas. mais do que na praia.
promete um dia  ir ver magias no céu nórdico. e derrete-se no conforto dos corpos nus.
muito à noite. quando se dá.
toca. toca-se. sente tudo. e gosta de palavras doces sussurradas ao ouvido.
não resiste às fragilidades da inocência, mas sabe que esta se perde na infância.
por isso, veste quartos de hotel, bancos traseiros e bancadas. verdes. sempre.
diz que se basta. mas não abdica de quem lhe faz falta. e jura sensibilidades sem fim.
a vida, trá-la no sorriso. sobretudo com o olhar. e apaixona-se pelas coisas simples. 
com o seu alentejo na memória.
nesta terra quente sentiu pela primeira vez o cheiro das laranjas. e batizou-a como sua.
e nas intermitências da racionalidade vive a noite confundida no corpo.  de preto, muito de preto.
relaxa enquanto fuma. "viste a lua hoje?"
P quer tudo sem sobressaltos. e detesta gente banal. tanto quanto a psicótica.
fraternal com o que lhe é próximo mas não é seu, adora brincar aos tios e às parecenças.
um pouco distantes, objetivamente, lá perdidas na rapunzel.
aficionado pelos prazeres da vida, adora um bom peixe à beira mar. 
e uma conversa leve à luz de um café onde reclama, com frequência, 
deverem pagar-lhe para aturar música tão má.
P tem uma voz indescritível. 
e embala o público com palavras poesia de livros doces em teatros bonitos. 
a norte.
diz que me gosta. e eu acredito.
P é isto tudo mas não só isto.
mas o resto escreve-se nas estrelas.
com pontinhos. muitos.
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