passeio dentro de ti

nesta cidade, muito guarda-segredos e cantinhos rarefeitos. inacessíveis. na pele colada de balões e bailarinas..
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todas as viagens são negócios e os hotéis reservam-nos o direito de não encontrarmos diferenças. as janelas laranjas brilhantes penduradas nas altas árvores de betão. com um só cigarro, restava-lhe pôr-se a andar ao contrário dos carros. toda a terra é estrangeira. uma gota de álcool, as pequenas coisas com que se desperdiçam os dias e se inventa a eternidade ou uma noite de sexo à tarde. com os olhos e as ruas enlameadas pela corrupção dos corpos, uma garrafa de vodka vazia, palavras sem decência nenhuma, a beleza branca que quase sempre mata, os sapatos na sala à luz da manhã. os corpos abrigando-se da claridade excessiva despediram-se para nunca mais. decidido a pagar para ouvir alguém fingir prazer.
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nas férias brinca-se ao que se poderia ter sido. é provável que alguém pense na sua própria mulher de férias em outra parte do mundo e na possibilidade de estar a sentir o mesmo. quando regressarem amar-se-ão como se houvesse alguma verdade nisso. nesse dia ouvir-se-á em uníssono «já tinha saudades de casa». lisboa morre a pouco e pouco sob os lençóis.
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[paulo josé miranda, o tabaco de deus] (adapt.)]
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