passeio dentro de ti

nesta cidade, muito guarda-segredos e cantinhos rarefeitos. inacessíveis. na pele colada de balões e bailarinas..
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olhei para as minhas mãos,
os meus dedos.
e lembrei-me de tantas coisas
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uma voz tímida: susana. não passávamos todas as noites juntos. ela telefonava-me antes e pedia-me para passar a noite comigo. perguntei-lhe a idade na primeira vez em que falámos. ela nunca me perguntou a idade. depois de lhe abrir a porta, ela dava-me um beijo nos lábios. enquanto adormecíamos, o meu corpo seguia a forma do corpo dela. pousava-lhe um braço por cima, que era como um cobertor, e ela segurava-me essa mão entre as suas mãos. os seus cabelos tocavam-me o rosto. de manhã, quando a luz entrava pelas janelas e enchia o quarto, acordávamos na mesma posição. beijávamo-nos e éramos um do outro.

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a minha mulher era a menina que conheci um dia e que o meu olhar nunca largou. eu, a ver os dedos e a palma aberta daquela mão. e a pousar a minha mão no centro da sua, a entregar-lha, a entregar-lhe o coração.
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[cal_josé luis peixoto]