no cemitério de pianos, a noite
era absoluta. dentro desse tempo opaco
[..]os meus braços salvavam-se ao envolvê-la.
as minhas mãos procuravam paz
na superfície certa das suas costas.
as nossas bocas construíam formas: tantos detalhes:
as nossas línguas a saliva morna o sangue morno.
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segurava-lhe a cabeça: os dedos entre os cabelos [..] a palma da minha mão direita descia pelo seu corpo, pela linha do seu corpo, passava pela cintura e descia, procurava o fim do vestido, encontrava as pernas dela subia. e os meus lábios estavam ainda e também nos seus lábios porque respirávamos a mesma respiração. a ponta dos meus dedos deslizava, subia pelo interior quente, liso das suas coxas. esse caminho era longo. ela pousava uma mão à volta do meu braço. [..] os meus dedos: o meu corpo todo: os meus dedos sentiam, devagar [..]um pedaço do céu escuro entrava pela janela do cemitério de pianos. era essa quase nenhuma claridade que mostrava as sombras e os contornos do corpo dela no momento em que lhe levantava o vestido até à cintura e lhe deslizava as cuecas pelas pernas. e deitava-a sobre um piano: o seu corpo: o meu corpo: os nossos corpos.
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[excertos de cemitério de pianos_josé luís peixoto]
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[excertos de cemitério de pianos_josé luís peixoto]
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