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b-side of feelings
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come and get lost
counting stars
in daylight
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passeio dentro de ti
nesta cidade, muito guarda-segredos e cantinhos rarefeitos. inacessíveis. na pele colada de balões e bailarinas..
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donne-moi une cigarette
je la fumerai peut-être
pour occuper mes dix doigts
..
..
on pourra alors peut être
sur nos deux cœurs de granit froid
y gratter une allumette
et la partager comme autrefois
quand nos corps étaient à la fête
qu’ils n’avaient pas peur du combat
donne-moi cette cigarette
comme un dernier cadeau de toi
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donne-moi une cigarette
je la fumerai peut-être
pour occuper mes dix doigts
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on pourra alors peut être
sur nos deux cœurs de granit froid
y gratter une allumette
et la partager comme autrefois
quand nos corps étaient à la fête
qu’ils n’avaient pas peur du combat
donne-moi cette cigarette
comme un dernier cadeau de toi
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no princípio tacteávamo-nos,
não sabíamos bem o que dizer,
o que podíamos dizer, o que arriscar,
mas rapidamente deixámos que as palavras
nos levassem para onde quisessem.
as palavras sabem sempre mais do que nós.
são sempre mais do que palavras: um punhal,
uma carícia, uma confissão.
a minha interlocutora gostava muito de palavras,
de jogar com as palavras, e eu também.
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[o mundo é tudo o que acontece_pedro paixão]
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no princípio tacteávamo-nos,
não sabíamos bem o que dizer,
o que podíamos dizer, o que arriscar,
mas rapidamente deixámos que as palavras
nos levassem para onde quisessem.
as palavras sabem sempre mais do que nós.
são sempre mais do que palavras: um punhal,
uma carícia, uma confissão.
a minha interlocutora gostava muito de palavras,
de jogar com as palavras, e eu também.
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chegava a ser perturbante ouvir a sua voz no escuro do meu quarto, deitado sobre a cama ou a andar de um lado para o outro como um bicho cercado. eu queria cada vez mais aquelas palavras que sentia cada vez mais minhas e desejava que ela sentisse o mesmo. a imaginação pode ser uma arma poderosa. claro que tudo isto, desde o início, teve a ver com sexo. sexo é o lugar caótico onde nos queremos lançar para nos libertarmos do terrível jugo do tempo, onde o momento promete falsamente a eternidade. [..] ficava com a estranha sensação de saber mais sobre ela do que sobre qualquer outra pessoa. pelo menos de saber quem ela era como mais ninguém adivinhava. disse-lhe que já não aguentava muito mais e ela disse-me que já não aguentava muito mais.não nos dissemos o que era isso que já não aguentávamos. a última vez que tive prazer com a minha amante já não foi com ela que tive prazer mas sim com a voz que só a mim pertencia. fiquei inquieto. disse-lhe que era imperioso acabarmos com aquilo. respondeu-me que nos encontraríamos no dia seguinte às sete da tarde. o que poderá acontecer a duas almas ávidas que desejam o que não é possível alcançar? -onde estás? ouvi. e eu disse: estou aqui. e ela disse: eu também estou aqui. virei-me e abracei o corpo que ali estava. ficámos assim agarrados mais do que seria de esperar, as nossas caras escondidas pelos corpos. depois vi-a e tive a surpreendente sensação de saber desde sempre como era a sua cara. ela, unicamente ela, só ela. disse-me baixinho: vamos amar? e eu disse: és linda, faz de mim o que quiseres. apanhámos um táxi. do quarto de hotel com vista para o mar só ficou uma série de fotografias que lhe tirei ao amanhecer, as suas mãos entreabertas e uma cicatriz a meio do corpo. ninguém, senão nós, saberá disto.
..[o mundo é tudo o que acontece_pedro paixão]
..
..
olhámo-nos nos olhos num único momento.
-gostava de um perfume para uma mulher.
-que tipo de mulher?
-uma mulher que não existe, senão para
me trazer secretos prazeres.
ela virou-se para trás.
depois de alguns minutos, apresentou-me
um pequeno frasco de vidro tingido de
verde-esmeralda.
agarrou-me na mão esquerda,
subiu delicadamente o punho da minha camisa
e passou com um estilete em vidro uma gota
de perfume pelo meu pulso.
..
..
durante meses pensei naquela mulher
que era minha convocada pela
memória e pela imaginação e
durante os quais lhe fui de uma
fidelidade dolorosa
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[o mundo é tudo o que acontece_pedro paixão]
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olhámo-nos nos olhos num único momento.
-gostava de um perfume para uma mulher.
-que tipo de mulher?
-uma mulher que não existe, senão para
me trazer secretos prazeres.
ela virou-se para trás.
depois de alguns minutos, apresentou-me
um pequeno frasco de vidro tingido de
verde-esmeralda.
agarrou-me na mão esquerda,
subiu delicadamente o punho da minha camisa
e passou com um estilete em vidro uma gota
de perfume pelo meu pulso.
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durante meses pensei naquela mulher
que era minha convocada pela
memória e pela imaginação e
durante os quais lhe fui de uma
fidelidade dolorosa
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[o mundo é tudo o que acontece_pedro paixão]
..
..
persigo a beleza.
não é uma escolha.
é uma condenação.
não são cores, imagens, sons,
nem sequer a suave pele de uma mulher
..
..
impossível provar que existe.
daí a urgência, o coração a
bater na boca.
um desejo marcado no ponto de encontro
onde ficaremos para sempre abraçados.
impertinente.
intoxica-nos até ao desmaio.
não conhece regras.
vive da vida
e mais nada.
[o mundo é tudo o que acontece_pedro paixão]
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persigo a beleza.
não é uma escolha.
é uma condenação.
não são cores, imagens, sons,
nem sequer a suave pele de uma mulher
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impossível provar que existe.
daí a urgência, o coração a
bater na boca.
um desejo marcado no ponto de encontro
onde ficaremos para sempre abraçados.
impertinente.
intoxica-nos até ao desmaio.
não conhece regras.
vive da vida
e mais nada.
[o mundo é tudo o que acontece_pedro paixão]
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teremos sempre a nossa cidade
de ardinas, cafés de saco,
corpos encostados a ruas
escuras,molhadas
e beijos....
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teremos sempre a nossa cidade
de ardinas, cafés de saco,
corpos encostados a ruas
escuras,molhadas
e beijos....
(rita rocha *)
....
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no cemitério de pianos, a noite
era absoluta. dentro desse tempo opaco
[..]os meus braços salvavam-se ao envolvê-la.
as minhas mãos procuravam paz
na superfície certa das suas costas.
as nossas bocas construíam formas: tantos detalhes:
as nossas línguas a saliva morna o sangue morno.
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no cemitério de pianos, a noite
era absoluta. dentro desse tempo opaco
[..]os meus braços salvavam-se ao envolvê-la.
as minhas mãos procuravam paz
na superfície certa das suas costas.
as nossas bocas construíam formas: tantos detalhes:
as nossas línguas a saliva morna o sangue morno.
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segurava-lhe a cabeça: os dedos entre os cabelos [..] a palma da minha mão direita descia pelo seu corpo, pela linha do seu corpo, passava pela cintura e descia, procurava o fim do vestido, encontrava as pernas dela subia. e os meus lábios estavam ainda e também nos seus lábios porque respirávamos a mesma respiração. a ponta dos meus dedos deslizava, subia pelo interior quente, liso das suas coxas. esse caminho era longo. ela pousava uma mão à volta do meu braço. [..] os meus dedos: o meu corpo todo: os meus dedos sentiam, devagar [..]um pedaço do céu escuro entrava pela janela do cemitério de pianos. era essa quase nenhuma claridade que mostrava as sombras e os contornos do corpo dela no momento em que lhe levantava o vestido até à cintura e lhe deslizava as cuecas pelas pernas. e deitava-a sobre um piano: o seu corpo: o meu corpo: os nossos corpos.
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[excertos de cemitério de pianos_josé luís peixoto]
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[excertos de cemitério de pianos_josé luís peixoto]
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..
outra vez, as horas.
podemos começar tudo de novo
como um jogo de que já se
quebraram demasiadas regras?
..
..
o início na memória construída.
até onde seria necessário recuar para
recuperar o corpo e a vontade?
mesmo esta outra tarde que passei
a tentar domesticar a mão
que agora faz festas a um gato imaginário
para não ter de reconhecer a derrota
de uma falsa partida.
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[livre arbítrio_tiago araújo]
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outra vez, as horas.
podemos começar tudo de novo
como um jogo de que já se
quebraram demasiadas regras?
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o início na memória construída.
até onde seria necessário recuar para
recuperar o corpo e a vontade?
mesmo esta outra tarde que passei
a tentar domesticar a mão
que agora faz festas a um gato imaginário
para não ter de reconhecer a derrota
de uma falsa partida.
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[livre arbítrio_tiago araújo]
..
..
o mergulhador nocturno entra na água,
de costas, com todo o peso do corpo
concentrado num ponto imaginário do peito.
percorre os corredores da casa abandonada.
às escuras, com a nudez líquida da
embriaguez, a memória é a distorção
dos sentidos pela água.
..
..
não se retorna às tardes adolescentes com a mesma febre,
a mesma imagem idealizada dos corpos ou do mesmo corpo.
estive ou não estive aqui?
o interior deste quarto era uma construção distante e complexa.
e afinal é tão simples, basta deixarmo-nos ir.
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[livre arbítrio_tiago araújo]
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o mergulhador nocturno entra na água,
de costas, com todo o peso do corpo
concentrado num ponto imaginário do peito.
percorre os corredores da casa abandonada.
às escuras, com a nudez líquida da
embriaguez, a memória é a distorção
dos sentidos pela água.
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não se retorna às tardes adolescentes com a mesma febre,
a mesma imagem idealizada dos corpos ou do mesmo corpo.
estive ou não estive aqui?
o interior deste quarto era uma construção distante e complexa.
e afinal é tão simples, basta deixarmo-nos ir.
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[livre arbítrio_tiago araújo]
..
..
o que resta desta tarde
é um fantasma de
nitrato de prata
junto ao vidro,
a quebrar-se.
..
..
o esperma já frio sobre o ventre
e o sono, num quarto de hotel sem aquecimento,
por ser ainda muito cedo e muito tarde.
o amor erótico com a violência
da tentativa de recuperação
de uma parte perdida.
depois a água e o vidro,
a tarde a morrer-nos nos braços.
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[livre arbítrio_tiago araújo]
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o que resta desta tarde
é um fantasma de
nitrato de prata
junto ao vidro,
a quebrar-se.
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o esperma já frio sobre o ventre
e o sono, num quarto de hotel sem aquecimento,
por ser ainda muito cedo e muito tarde.
o amor erótico com a violência
da tentativa de recuperação
de uma parte perdida.
depois a água e o vidro,
a tarde a morrer-nos nos braços.
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[livre arbítrio_tiago araújo]
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há suspeições que nos levam pela mão para a boca de cena. eras tu. não tive a menor dúvida até te mexeres e a tua imagem se refractar. por momentos, fiquei sem saber qual o mais real, se o teu vulto a desaparecer nas escadas, se o papel fotográfico de sempre com a tua forma. como quando fugimos pela primeira saída do palco porque nos trocam a peça. nesses momentos, o que acontece frequentemente é esquecermo-nos de trocar, também, de personagem. e quem acaba por sair pela porta dos fundos é o actor. acho que fiquei na mesa a segurar-te o rosto. imóvel.
..
..
..
olhei para as minhas mãos,
os meus dedos.
e lembrei-me de tantas coisas
..
uma voz tímida: susana. não passávamos todas as noites juntos. ela telefonava-me antes e pedia-me para passar a noite comigo. perguntei-lhe a idade na primeira vez em que falámos. ela nunca me perguntou a idade. depois de lhe abrir a porta, ela dava-me um beijo nos lábios. enquanto adormecíamos, o meu corpo seguia a forma do corpo dela. pousava-lhe um braço por cima, que era como um cobertor, e ela segurava-me essa mão entre as suas mãos. os seus cabelos tocavam-me o rosto. de manhã, quando a luz entrava pelas janelas e enchia o quarto, acordávamos na mesma posição. beijávamo-nos e éramos um do outro.
..
..
a minha mulher era a menina que conheci um dia e que o meu olhar nunca largou. eu, a ver os dedos e a palma aberta daquela mão. e a pousar a minha mão no centro da sua, a entregar-lha, a entregar-lhe o coração.
..
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[cal_josé luis peixoto]
olhei para as minhas mãos,
os meus dedos.
e lembrei-me de tantas coisas
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uma voz tímida: susana. não passávamos todas as noites juntos. ela telefonava-me antes e pedia-me para passar a noite comigo. perguntei-lhe a idade na primeira vez em que falámos. ela nunca me perguntou a idade. depois de lhe abrir a porta, ela dava-me um beijo nos lábios. enquanto adormecíamos, o meu corpo seguia a forma do corpo dela. pousava-lhe um braço por cima, que era como um cobertor, e ela segurava-me essa mão entre as suas mãos. os seus cabelos tocavam-me o rosto. de manhã, quando a luz entrava pelas janelas e enchia o quarto, acordávamos na mesma posição. beijávamo-nos e éramos um do outro.
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a minha mulher era a menina que conheci um dia e que o meu olhar nunca largou. eu, a ver os dedos e a palma aberta daquela mão. e a pousar a minha mão no centro da sua, a entregar-lha, a entregar-lhe o coração.
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[cal_josé luis peixoto]
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